segunda-feira, 30 de maio de 2011

Superman ficou fraco, o Pinguim jogou criptonita



Ah, o que que é isso?, você se pergunta. Ele vai apelar para axé! O que axé tem a ver com elaborar ficção?
Bom, tem a ver se você quiser escrever sobre a trajetória de um grupo de axé fictício...
Contrariando a expectativa de outros, também não vou falar sobre quadrinhos, nem postar nenhuma tirinha. Vocês podem ver ótimas tirinhas no blog do meu amigo Daniel www.tiradejornal.blogspot.com
A conexão é a seguinte: Superman é vulnerável à criptonita e à...? Magia!! (Isso é muito nerd pra você, né?) Falemos então de magia e fantasia... falemos de como elaborar um universo mágico que seja crível. Sei que muitos adoram um mundo de fantasia, cheio de magos, bruxos, duendes, elfos e por aí vai. Então, por que não saber um pouco mais sobre como construir um? O texto a seguir é uma tradução livre de um texto que vi no site FictionFactor.com.

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O que diferencia a fantasia dos outros gêneros?
Ela pode usar o mesmo cenário que um mistério moderno ou um romance histórico, então porque ela não é nenhuma dessas duas coisas? Em primeiro lugar, o tom ou ênfase de um história de fantasia não está no romance ou no mistério, embora ela possa conter poderosos elementos dos dois. A maior parte dos textos de fantasia vai conter algum elemento de magia, sendo ela inerente ao cenário ou aos personagens ou a algo que pode ser manipulado.
O primeiro passo ao decidir adicionar magia ao seu mundo é: quem ou o que a terá ou irá usá-la. Ela será de todo mundo ou de uma minoria seleta? Ela será aceita como coisa comum ou será temida e proibida por lei? Ela será parte natural dos habitantes?
Quem usa ou possui magia em seu mundo afetará consideravelmente o seu roteiro e sua caracterização. Se a magia é limitada a uma minoria seleta (Harry Potter) como o resto do mundo reagirá? Um usuário de magia será banido ou perseguido? Considere o extremo oposto. No primeiro livro Xanth, Bink foi exilado por não possuir um talento mágico. Seu mundo pode carregar ambos os pontos de vista ou estar em algum entre os dois. A série Harry Potter é uma mistura dos dois: no mundo "real", a minoria tem talentos mágicos que são mantidos em segredo; mas na comunidade mágica, aqueles que nasceram sem magia são tratados com pena e/ou desprezo.
A maior parte das histórias de fantasia limitam a magia disponível para os personagens por uma razão muito importante: conflito. Se todo mundo possuir magia ilimitada, onde está o potencial conflito? Se um feiticeiro pode transformar todos os seus inimigos em poeira ao primeiro sinal de problema, então fica quase impossível criar tensão. O feiticeiro (bom ou mau) precisa ter possibilidade de ser derrotado, senão o suspense se esvai.
Coerência é um assunto de suma importância ao se desenvolver sistemas mágicos. Se de repente a feiticeira Ickabette se lembra na página 400 que pode aniquilar seus inimigos com um pensamento, então o mundo que você criou perde credibilidade.
Muitos escritores confundem coerência com inflexibilidade e sentem que não hã espaço para o crescimento ou para a mudança. Isso não é verdade. Um personagem que na página 3 tem problemas em acender uma vela ainda pode incinerar uma cidade inteira na página 300 se a história suporta essa mudança, ao dar ao leitor a impressão de que o personagem está crescendo em poder e habilidade. Em nenhum momento, as habilidades de um personagem devem mudar milagrosamente para resolver o conflito final da história (intervenção minha: já ouviram falar de Deus ex Machina? Se não, deem uma olhada aqui).
Em A maldição de Chalion de Lois Bujold, o personagem principal realiza um milagre, mas Bujold construiu seu mundo em torno dos cinco deuses/deusas e seu histórico de concessão de poderes milagrosos a uma minoria escolhida. A história conduz magistralmente a essa conclusão e o leitor não é deixado com a impressão de que o escritor é um trapaceiro.

Fonte:
A origem da magia em seu mundo pode ser um ponto muito importante. Ela pode ser um poder universal (a Força), um dom de Deus ou de outra divindade (mitos de diversas partes do mundo usam esse sistema), pode ser baseada na natureza (os elfos de Tolkien) ou derivada da força da vida (a trilogia Secret Text de Holly Lisle é um excelente exemplo).
Técnica:
Se seus feiticeiros, magos ou bruxos precisam de ingredientes especiais e ervas para fazer a magia deles funcionar, então onde eles acham esses ingredientes? Se a magia é usada abertamente, eles podem achar o que precisam em lojas e no mercado? Se a magia é temida ou proibida por lei, que distâncias eles têm que percorrerm  a fim de obter os componentes necessários?
Katherine Kurtz usa ritual mágico nas suas séries Deryni, que tem a Igreja Católica como inspiração. A quantidade de detalhes que você usa para mostrar a seus leitores como a magia funciona em seu mundo vai depender do seu estilo de escrever. Kurtz constroi a tensão lentamente e boa parte do conflito na sua primeiro trilogia acontece dentro dos personagens e não fora. Já Tolkien também leva a trilogia Senhor dos Anéis em um ritmo mais lento do que algumas histórias de fantasia; ele não perde muito tempo explicando como seus magos usam seu poder. Ocasionalmente, há palavras (ex: Gandalf na ponte enfrentando Balrog), mas muitas vezes a magia é bem simples.

Poder:
A quantidade de poder que um feiticeiro possui vai depender em grande parte do roteiro da sua história e do papel do seu feiticeiro nesse mesmo roteiro. Muitas históris favorecem a puberdade como o momento do "despertar" dos talentos mágicos ou a época de crescimento extremo desses talentos. A razão para isso é a incapacidade de uma criança pequena ou um bebê de entender as consequências de suas ações (é por isso que nós não damos aos pré-adolescentes o direito de dirigir carros em nosso mundo).
Independente de como seus personagens usam magia e de como ela interage com outras criaturas e forças, ela precisa seguir um conjunto de regras. Coerência é valiosa no universo mágico. Sem isso, a magia se torna o elixir milagrodo que conserta roteiros defeituosos e resgata mundo muito mal desenvolvidos.

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E aí, deu para se animar em elaborar uma história de magia e seguir as regras da cartilha para torná-la mais crível?
Em caso afirmativo, escreva aí nem que seja um pequeno conto, poste no seu próprio blog ou me envie pra eu dar uma olhada! Boa semana a todos, tchau!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eu sempre quero mais que ontem



Olá, amigos, tudo bom? Estou de volta depois de...11 dias, com um assunto relacionado aos erros que nós, aspirantes a escritores, podemos cometer - e tenho certeza que muitos de nós cometem. É o erro de se achar esperto demais. Não precisa ficar preocupado achando que pensar em algo muito elaborado para dar autenticidade a sua história é um erro. O problema de que estou falando é quando nós nos sentimos com o rei na barriga a ponto de acreditar que somos melhores que outros que estão tentando ser escritores, que somos melhores que os ficcionistas da atualidade, que nossos leitores são um bando de patetas. Uma coisa é ter auto-confiança; outra é passar disso e ser arrogante.
Para resumir, temos que nos pôr em nosso lugar.
Não acredite que os escitores de antigamente são melhores e que por isso você deve escrever como eles, e nem que os escritores estrangeiros são os "caras" e que você deve segui-los. Também não ache que por gostar dos que são mais famosos, clássicos ou refinados, você escreverá melhor do que aqueles que, na sua opinião, não são nada disso. Se um leitor em potencial encontrar seu texto e perceber nele a sua arrogância (eles sentem, pode crer), irá se sentir desencorajado por causa dela. Quem perde é você.  Bons escritores escrevem humildemente, pois sabem que são meros mortais. Não menospreze os leitores. Não se ache intelectualmente superior a eles. A verdadeira ficção não vem da cabeça, mas sim do coração.  O trabalho da ficção é penetrar bem fundo nas emoções humanas, e depois retratá-las... recriá-las... comovê-las. A grandeza da partilha de emoções é bem maior que a grandeza do QI.
Se você se considera bom demais - e pensa que o público é um povo ignorante -, é melhor reconsiderar suas atitudes. Quando os leitores perceberem que você faz pouco caso deles, passarão a odiá-lo por isso.
Pense da seguinte forma:
Você é esperto - que bom, que a Força esteja sempre com você. Mas para provar que é inteligente mesmo, um dos desafios é manter a atitude esnobe longe dos seus textos. Será que você consegue? Na verdade, nem é preciso ser tão inteligente assim para escrever ficção. Basta ser sensível e dedicado.
Para resumir este texto todo, lembre-se e anote:

  • Nunca menospreze seus leitores.
  • Não presuma que seus leitores são menos inteligentes que você.
  • Nunca despreze os trabalhos que já foram publicados.
  • Você se acha esperto o bastante para fazer boas histórias? Conversa fiada!
  • Desça à terra dos meros mortais! É onde os leitores estão.
Como diria a camisa de um amigo meu: Gentileza gera gentileza. Acaricie seus leitores com gentileza por meio dos seus textos, que eles retribuíram com elogios.
Até mais!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Dizer o que eu posso dizer? - Parte II


E aí, rapaziada! Quem achou que eu não voltaria esta semana levanta a mão. Opa...levantei a minha aqui.
Muito bem, pessoal, vamos a mais liçõezinhas sobre o diálogo na ficção. Encontrei esse texto há pouco tempo na Internet. Ele foi escrito por um rapaz que é jornalista, e ele discute a importância de haver depoimentos tanto no jornalismo quanto na ficção.
O começo é aquela história que já conhecemos, graças ao primeiro texto sobre diálogo que postei aqui. O diálogo faz a história ganhar vida. O diálogo conta a história do ponto de vista do personagem. (O destaque é meu; achei essa explicação muito boa). O diálogo permite-nos decidir por nós mesmos quem é o personagem, porque ele está fazendo o que está fazendo, e como ele decide resolver o próprio conflito. Um bom diálogo muda o ritmo de toda a escrita. 
O autor prossegue nos dando esclarecimentos sobre jornalismo. Segundo ele, lá o diálogo é a interrupção da descrição dos eventos feita pelo repórter. O diálogo não apenas quebra o que  eles chamam de “espaço cinza” sem fim, mas também acrescenta credibilidade a um artigo. Dois repórteres podem cobrir uma  matéria de duas formas diferentes, trazendo ao trabalho sua própria bagagem educacional, histórias pessoais e influências. O diálogo, entretanto, é constante, uma citação que permite aos leitores ouvir o que realmente foi falado, independente do que os repórteres estejam dizendo. Nos coloca no cenário do incidente, permite-nos decidir sobre o que aconteceu.
Em ficção, acontece o mesmo. Como escritores, nós damos a nossos leitores a história que vemos em nossa cabeça, baseada em nossa própria bagagem educacional, histórias pessoais e influências. Estamos contando aos leitores o que queremos que eles saibam, mas quando acrescentamos diálogo damos credibilidade aos personagens, permitindo que os leitores testemunhem essas pessoas em ação e julguem por si próprios.
Quando as pessoas falam na ficção, os leitores escutam atentos como se estivessem todos no mesmo quarto. Nesse momento, a história não está sendo contada a eles; eles a estão escutando às escondidas. Eles se tornam uma parte da história.
Como não podia deixar de ser (agora quem fala sou eu, Alex, não o rapaz jornalista), há uma pequena lista de dicas, extraídas da experiência jornalística, para ajudar na elaboração de diálogo eficazes. Talvez alguns de nós já as conheçam, mas vale a pena relembrá-las para que estejam sempre presentes na nossa rotina  como escritores:

1. Entreviste seus personagens para conhecê-los melhor. Isso não é coisa de doido, não. Se você pode imaginar um monte de personagens na sua cabeça, então pode colocar todos eles sentadinhos a uma mesa para uma entrevista. Visualize-os a sua frente, pegue o seu bloquinho de anotações de repórter e lhes faça perguntas, qualquer coisa, desde o que eles sentem até a relação deles com pais, irmãos e companheiros. Você vai ficar impressionado com o quanto essa técnica pode ser eficaz, ainda mais quando os personagens são vagos e rasos na sua cabeça. Tente botar pra fora os pensamentos mais profundos que eles têm. Observe todos os movimentos que eles fazem. Anote tudo isso até você saber exatamente quem são essas pessoas. 

2. Só deixe o que for bom mesmo. Muitas vezes, um repórter da televisão vai gravar horas de conversa para só mandar para o ar alguns poucos minutos que valem a pena. Por que? Porque os espectadores não querem acompanhar longas explicações. Eles querem a versão fácil e resumida, o trechinho de vinte segundos que diz tudo. (NOTA: Por isso, nunca acredite que a TV te apresenta toda a história por trás de um incidente). Em outras palavras, apenas os fatos. Em ficção, tagarelice, falas arrastadas, extensos argumentos repetitivos podem ser realista, mas quem quer ler muito realismo? Há uma razão para chamarem isso de ficção. Dê aos leitores as partes interessantes e deixe de fora o restante. Resumindo: não tenha preguiça de escrever muito, mesmo sabendo que vai ficar só com uma coisinha de nada.

3. Ouça as pessoas a sua volta, principalmente aquelas que você deseja imitar em seu livro. Preste atenção à cadência de seu modo de falar, o sotaque, as expressões. Seja um gravador ambulante, depois use essas distinções para expressar seus vigorosos personagens. Na mesma linha, dê a cada personagem, homem ou mulher, sua própria voz. Seja abelhudo mesmo!

4. Evite estereótipos e dialetos. Grandes nomes da literatura conseguiram dançar conforme essa música, mas a regra geral faz alertas contra ela, especialmente se você está escrevendo uma ficção para a massa em geral, onde os leitores querem uma leitura rápida, de entretenimento. Mesmo que os dialetos tragam cores novas a sua história, expressões complicadas vão desacelerar o ritmo de leitura. Use expressões aqui e ali para lembrar aos leitores que os personagens têm sotaques e modos de falar únicos, mas, de forma geral, fique no português básico, usado pelo leitor médio. 

5. Use o diálogo para desenvolver seus personagens e fazer a história seguir em frente, de preferência tudo ao mesmo tempo. Nada melhor para levar uma matéria adiante do que um ótimo diálogo. Não importa o quanto a cobertura dos repórteres sobre o World Trade Center e o local do atentado tenha sido extensa; só o diálogo das pessoas que passaram por esses horrores pôde trazê-los de verdade para nossa vida; o diálogo nos colocou no lugar dessas. O mesmo vale para a ficção. Quando o conselho é formado no Senhor dos Anéis para determinar o que fazer com o anel de poder, os personagens dão opiniões diversas, o que tanto externa suas motivações interiores quanto mostra ao leitor para onde a história segue.(Nunca li Senhor dos Anéis, mas vi o filme. Deve ser a mesma coisa essa parte do conselho).

6. Torne o diálogo significativo. Nada mexe mais com as emoções do que um ótimo diálogo. Usar uma citação cativante para aprimorar a história comove os leitores mais do que as palavras de um jornalista ou de um autor.

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Cá estamos, no fechar das cortinas desta postagem. Se você, querido leitor imaginário, tem outras dicas para dar, por favor, escreva aí nos comentários. Vai ser ótimo também se você(s) puderem relatar experiências de elaboração de diálogo, como foi, se foi difícil, em que conversas ele se baseou e por aí vai.
Por hoje é só, pessoal!











segunda-feira, 9 de maio de 2011

Dizer, o que eu posso dizer?




Olá, leitor imaginário, tudo bom? Sentiu minha falta? Eu também senti sua falta, amigo. Prometi postar aqui antes do feriado e não consegui cumprir. Desculpe. Aquela tradução em que estava envolvido é muito longa. Tanto que hoje vou até colocar outra aqui, que tem o mesmo propósito: dar dicas sobre como elaborar o diálogo em sua história. Espero que você não tenha abandonado sua história por minha causa, leitor imaginário. Tenha força e prossiga.
Agora, suponhamos que você tenha me perguntado "Dizer, o que posso dizer?", "que diálogo colocar na boca dos meus personagens?". Coloque um diálogo eficiente. Como assim? Explico.
Um diálogo eficiente faz o enredo andar. (Sabe o "enredo", né. O encadeamento dos eventos da história? Esse mesmo). Um diálogo eficiente aprofunda, ou traz novas camadas, aos seus personagens. Traz proximidade e intimidade, e traz com sutileza informações e emoções que são capazes de estimular a empatia do leitor. 
Entendeu? Hum... você quer saber o que traz essa eficiência para o diálogo. Vejamos: 
1º  Imitação da vida real: Não parece “morto” ou formal demais. O diálogo tem que fluir naturalmente. Mas atenção: Embora nosso desejo seja um diálogo que “soe” real, não é nosso objetivo mostrar um diálogo da vida real.  Os diálogos da vida real você sabe como são, né. Tem muita tagarelice sem utilidade. Traduzindo, ele é monótono, sem profundidade e um desperdício criminoso de um bom espaço. Em outras palavras, não rende nada.

 2º Dizer alguma coisa: Não deixe que os personagens perambulem pela história sem objetivo. O que eles estão dizendo tem que prestar para alguma coisa. Quanto maior a missão, mais eficiente o diálogo. Por exemplo, se o seu diálogo faz o enredo avançar, crie ou adicione um diálogo a um conflito já existente, e revele algo novo sobre o personagem. Aí, ele estará trabalhando bastante. O diálogo deve trabalhar bastante. Quanto mais funções ele tiver, mais ele ajuda a fortalecer a história. (Ou seja, diferente dos trabalhadores do dia-a-dia, acumular funções faz bem para o diálogo - não exagere, é claro).

Estabelecimento do ritmo: Mexa com o ritmo da história  através do diálogo. Não ignore o estado emocional do personagem. Se ele está irritado, não o deixe ter pensamentos profundos, nem falas extensas. Somos humanos. Quando estamos irritados, falamos aos pedaços. Com tons de voz oscilantes. Para converter a emoção em escrita, use frases e parágrafos curtos, resumidos.Lembre-se também de:
- Verbos vigorosos
- Nada de enfeitar as palavras
- Nada de coisas meigas
- Nada de diminuir o ritmo do leitor
Quando o leitor lê mais rápido, ele sente a urgência dos acontecimentos, a velocidade com que acontecem.
Por outro lado, para reduzir o ritmo em momentos delicados, comoventes, faça o oposto – deixe seus personagens se estenderem nos pensamentos, descansadamente, em ideias vagarosas, e permita que falem em frases fluídas, guiadas pela coerência, que se movimentam devagar na página.(Quase dormi.)
Essa ferramenta leva a emoção do personagem ao leitor. Ganha a simpatia desse leitor. E a simpatia dos leitores traz bons frutos. 

  Personagens não são clones: Não deixe que seus personagens soem todos iguais. Um play boyzinho impertinente não fala da mesma forma que um pedreiro, ou que um mestre de obras que mora na comunidade mais pobre da cidade. Um mecânico não está apto para usar a verborragia ou o padrão de fala de um gerente geral de uma empresa, nem de um jogador de futebol. Mantenha a linguagem (verbal e não-verbal) fiel ao personagem. Respeite-o, não tirando dele as características que o tornam um individuo único. O modo como cada personagem fala deve ser natural a este personagem. Se não for assim, então, meu amigo, você está insultando o personagem e a pessoa em quem você está se inspirando. E de quebra, vai irritar os leitores pra valer. 

Dialeto não é pra se usar a torto e a direito: Se for apropriado, use dialetos. Mas, lembre-se: de pouco se faz muito. Uma gotinha realça as coisas, mas uma inundação causa distrações (e destruições). Dialeto não é comum, é difícil de ler – e não faz parte dos elementos estruturais que vendem uma história. (Nota minha: não concordo tanto com o autor nessa parte, porque muitos dos romances mais populares da literatura brasileira são romances regionais, repletos de dialetos. Vide Grandes Sertão Veredas de Guimarães Rosa. Portanto, você segue essa dica aqui se estiver de acordo com ela, leitor.)

(Não) falar o que? O diálogo silencioso às vezes pode ser a mais poderosa forma de diálogo. Acontece quando o personagem diz o oposto do que pretende, não diz nada, ou simplesmente evita o olhar de outro personagem. Isso também é um diálogo eficiente. 

Linguagem corporal: O diálogo não é apenas o que se fala. Também é o que nós não falamos, e como nós não falamos. Você já disse “Sim” quando queria dizer “Não”? Já disse “Tá certo” em uma discussão, quando na verdade queria dizer “Não seja burro, seu imbecil”?
Eis uns poucos exemplos de linguagem corporal:

Raiva: Mãos fechadas. Olhos estreitos. Postura rígida. Queixo duro. Lábios apertados.
·          Felicidade: Sorriso. Piscadelas. Olhos cintilando.
·         Relaxamento: Espreguiçamento. Membros frouxos.
·         Interesse: Inclinado para frente. Olhar atento para quem quer que esteja falando.
      Delicadeza: Carícias, toques, lábios separados.
·         Nervosismo: Balançar incerto. Arrepio. Esfregando as mãos.
·         Espanto: Olhos saltados. Parado feito pedra. Mão no peito, dedos separados. Queixo caído.
·         Tristeza: Lágrimas. Apático. Mão apertando o peito. Ombros caídos. Posição fetal. 
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      É isso aí, leitor. Se você gostou, dá um joinha aqui embaixo e não deixe de ver meu video anterior...ops!! Troquei as bolas, desculpe. De qualquer jeito, você pode continuar seguindo esse canal, ou melhor, blog. Esse post foi legal, foi útil? Há algo que você gostaria de acrescentar as dicas? Algo que você gostaria de pedir que eu postasse. Pode soltar o verbo, este espaço é seu (o espaço dos comentários, é claro).
Boa tarde e boa semana!
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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Num momento crucial, o sábio soube saber que o sabiá sabia assubiár

Olá, leitor imaginário. Nos reencontramos depois de...13 dias. Estive bem ocupado, ironicamente fazendo algo que eu já faço aqui: escrevendo. Mas era um artigo chato e quadradão para um evento de pesquisa qualquer. Agora vamos falar de emoção, de reflexão. Postarei um texto mais especial sobre dicas para escritores mais para o fim dessa semana, então se segura na poltrona. Hoje vamos viajar nas minhas loucas reflexões, escritas há coisa de um ano. Como eu a achei curtinha, resolvi juntá-la com outra mais recente, no melhor estilo dadaísta de ser. Isso deu certo? Vejamos mais embaixo.
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Há muito calor no Sul e muito frio no Norte, mas os hemisférios têm algo em comum: terremoto. Dois grandes terremotos em menos de três meses, um no Haiti, outro no Chile. Seriam essas duas "sacudidelas" irmãs? É loucura pensar nisso, mas temos que considerar, no mínimo, que elas vieram do mesmo ventre: o ventre do planeta que, nas dores do parto, fez as placas tectônicas se agitarem. 
Às vezes penso que a Terra é um ser consciente tentando se livrar da raça humana com os recursos de que dispõe. Muito ficção científica essa ideia? Talvez desse um bom roteiro de filme...se bem que já fizeram um...acho que o nome é Fim dos Tempos.
Mas pense bem: a Terra é uma mãe amorosa que cuida dos seus filhos, que os alimenta bem ("Aqui, em se plantando, tudo dá"). A terra fornece abrigo, exuberância, saúde, energia, paz, proteção. Mas o homem não estava satisfeito só com isso. Queria mais, queria uma terra do seu jeito - e isso me lembra aquele poema do Mário Quintana falando algo parecido. O conforto que a terra oferecia não era o bastante. Que coisa triste...A natureza trabalhou milhares de anos até chegar na criatura mais desenvolvida no tocante à consciência de estar no mundo ("E ele o fez à sua imagem e semelhança"). Ela chegou à sua obra prima depois de zilhões de tentativas e erros, mas às vezes desconfio que talvez ainda não sejamos a sua obra-prima; talvez sejamos mais uma parte do processo de tentativa e erro. Eis que depois de orgulhosa de ter, pelo menos, chegado ao Homem ("E Ele viu que era bom"), ele lhe volta às costas e procura transformar-lhe de tudo quanto é jeito. A criatura se volta contra seu criador, a mais angustiante das tragédias, a que remonta todas as gerações. 
Este não é o mundo originalmente destinado para nós. Este é o mundo que construímos para negar o primeiro, para afirmar a todo momento a nós mesmos que somos superiores a tudo aquilo que a natureza destinou aos outros animais.
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Se a natureza criou a vida, o Homem inventou a anti-vida. Basta olhar para tudo aquilo que degrada o planeta, que o transforma na lata de lixo da raça humana. Asfalto para sufocar a terra, fumaça para sufocar o ar, óleo para sufocar a água...de todo jeito, em todas as instâncias, o Homem promove o cinza melancólico da anti-vida. Ele sufoca o seu ambiente para dar fôlego a algo que ele mesmo criou para se distrair. Nesses dias de desemprego, venho aprendendo que nada é mais terrível do que dias parados e semelhantes. Nada é mais enlouquecedor do que ter pouco para fazer e fazer esse pouco do mesmo jeito, dia após dia, semana após semana. Talvez algumas culturas se adaptem bem a essa rotina. Mas outras não aguentaram o tédio e resolveram encher o mundo de distrações. Elas são tantas: astronomia, física, química, matemática, literatura, esportes, e por aí vai. A graça está nesse tumulto, não na paz de não saber, nem fazer nada.
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terça-feira, 5 de abril de 2011

Perdão, Senhor, quantos erros cometi...


Calma, amigo! Você não precisa apelar para Deus. Tá certo que nos sentimos mal quando nós, aspirantes a escritores, não nos dedicamos como deveríamos às histórias que queremos escrever, mas isso não é nenhum pecado mortal (a não ser que sua religião diga que é). Fique tranqüilo. Nós vamos é aprender sobre os erros mais comuns aos pretendentes a escritores de ficção. Bom, alguns vão aprender, outros vão revisar, e todos vão adotar estratégias para não deixar esses erros minarem a nossa meta: terminar uma história e encher as bienais com cada vez mais livros de bons autores de ficção nacionais.
De onde vem as informações que você está prestes a passar?, pergunta você, imaginário, mas curioso leitor. Elas vêm de um livro que encontrei em que o autor lista e destrincha nossos erros mais comuns (na opinião dele), totalizando 38 capítulos. Não sei se vou colocar os 38 aqui, porque alguns deles podem ser iguais aos anteriores, só que em outras palavras. Vamos ver. À medida que eu for traduzindo, eu vejo se são informações novas, ou se eu tô chovendo no molhado.
Sei que é meio chato ficar colocando dicas gerais sobre o processo da escrita, em vez de falar logo de diálogos, montagens de cenas, construção de personagens, mas é porque acredito que sem uma disciplina básica nada da parte mais específica será posta em prática. Seria como querer aprender no violão o dedilhado daquela música que você adora sem sequer saber o “nome” das cordas e a escala das notas musicais. E sem saber ler tablaturas.
Então, vamos lá para o resumo do primeiro capítulo:

1. Não invente desculpas

A pena do autor desse livro é sarcástica, por vezes ácida. Ele começa esse primeiro capítulo citando tiras cômicas em que a piada são as pessoas que querem de escrever, mas inventam desculpas para justificar sua “preguiça” em começar. Numa delas, o homem diz à mulher que vai esperar “a inspiração chegar” e envelhece na espera.  Nosso querido autor declara que o mundo está cheio de pessoas boas o bastante para construir uma vida como escritores. Porém, para a sorte daqueles que já estão no mercado, a maioria delas tem mais criatividade para fugir do esforço do que para encará-lo (isso é duro de se ouvir).
Muito bem. Se você está querendo seriamente enfrentar o ofício da ficção, nunca invente desculpas para si mesmo. Evite:
  • Dizer que está cansado demais.
  • Adiar para “depois”.
  • Não conseguir escrever porque está ocupado demais no momento.
  • Esperar pela inspiração.
  • Planejar para ir direto ao ponto “amanhã”
  • Desistir por causa de editoras, leitores, críticos e etc.
  • Dizer a si mesmo que está muito velho (ou muito novo) para começar.
  • Culpar a sua família pela SUA falta de tempo.
  • Dizer que o trabalho exige demais e que vai fazê-lo perder outras atividades.

Nada, a não ser uma tragédia de verdade, deve se intrometer entre você e a sua disciplina como escritor de ficção. Estamos nos enganando pra valer se acharmos que nossos escritores favoritos têm tempo ilimitado, que não lidam com problemas mais urgentes e que estão sempre na maior disposição para sentar ao computador e escrever. É claro que não! (Exclama o autor, e eu posso imaginá-lo bem exaltado). Escrever pode ser divertido pra caramba e extremamente recompensador. Mas é um trabalho duro.
Tá certo, ninguém gosta de trabalho duro dia após dia, semana após semana (eu que o diga). Todo mundo quer sombra e água fresca. Quando a história vai mal, não tem um escritor que sinta prazer em manter a rotina, concentrado no texto. É nessa hora que as desculpas pipocam. Mas os profissas não se deixam levar por elas facilmente.  
As desculpas, as reclamações, as atividades paralelas, tudo deve ser combatido ao longo do tempo; um escritor de verdade vai trabalhar. Re-gu-lar-men-te.
O autor faz a seguinte conta: se você escreve uma página por dia, ao final de um ano terá 365 páginas. Se você gastar o ano seguinte reescrevendo e revisando no mesmo ritmo, terá uma história para enviar a uma editora (ou para ser inscrita num concurso). Segundo o autor, esse é mais ou menos o método dos escritores que mais vendem (nos EUA, eu acho).
Agora, se você passar metade do tempo inventando desculpas, na melhor das hipóteses terá um livro em quatro anos. Muito tempo, não é? Se você passar 75% do tempo inventando desculpas, aí, meu amigo, não vai terminar a bendita história nunca.
O jeito profissional de fazer o trabalho é ser consistente, persistente e obstinado. Depois de um tempão, se o trabalho for rejeitado por todo mundo, não deixe que isso vire uma desculpa também. Eventualmente, todos os escritores constroem histórias inatacáveis. Mas para chegar lá é preciso continuar persistente.
O autor indica o seguinte método para se evitar criar desculpas: pegue um calendário baratinho, daquele tipo em que cada dia tem uma folha para anotações. No fim do dia, anote duas coisas na folhinha: 1 – quanto tempo você passou escrevendo ou planejando a história. 2 – quantas páginas você produziu (não importa se bem finalizadas ou só rascunhadas) nesse dia. Nos dias em que você não puder se doar pra história, pegue uma folha e encha-a com desculpas, do início ao fim. Não fique nem um dia sem fazer isso.
Se a coisa funciona mesmo, eu não sei – vou tentar descobrir, podem deixar -, mas o autor garante que, com o tempo, você fica de saco cheio das desculpas esfarrapadas e vai ou passar mais tempo fazendo o que tem que fazer ou vai desistir de vez.
De qualquer jeito, você para de ficar se enganando.
E aí, qual caminho você quer seguir?


Espero que os conselhos tenham sido úteis. Tenho que confessar que abriram minha mente. Até a próxima e quando terminar sua história, me envia o primeiro capítulo!

terça-feira, 29 de março de 2011

Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu; eu possuo apenas o que Deus me deu


Por mais que você ame de paixão os livros do seu escritor favorito, saiba que ele não é um privilegiado. Meus escritores favoritos, por exemplo, tiveram vidas difíceis antes de terem seus primeiros livros publicados – sem mencionar que foram rejeitados um bocado de vezes. A verdade é que eles podem até ter nascido com o talento para as letras, mas se não tivessem se esforçado e não fossem disciplinados, dificilmente teriam a possibilidade de ter seu talento descoberto e admirado. E como é que esses caras conseguem escrevem tanto em tão pouco tempo? Eles vivem para escrever, não comem, não tomam banho, não têm vida social?
Não necessariamente.
Para você, leitor imaginário aspirante a escritor, aumentar sua produtividade precisa usar completamente o tempo dedicado à escrita escrevendo o que planejou. Nós separamos um tempinho na agenda só para escrever, não separamos?
(Posso ouvir os grilos aqui perto...)
Então, vamos a dez maneiras de aumentar nossa produtividade. (Lembrando que isso não é receita de bolo para ter livro publicado, nem para conseguir escrever um livro. Você poderá conseguir as duas coisas de outras maneiras. Aqui estão apenas sugestões para serem adaptadas aos métodos de cada um).



1 - Gerenciar o Tempo
Você tem que ter um tempo semanal para escrever. Avalie realisticamente por quanto tempo você pode se dar ao luxo de simplesmente escrever sem distrações. NÃO leia e NÃO pesquise nada. Esse é o tempo para a escrita puramente criativa. Mantenha esse horário o mais fervorosamente que você puder.

2  – Ler
Leia de tudo. Leia livros que você já leu e adorou. Leia livros horríveis (na sua opinião). Leia coisas que não combinam com você. Leia bulas de remédio, textos de outdoor, revistas de fofoca. Você rapidamente vai aprender o que deixa uma história ou um artigo memoráveis, e como reconhecer algo ruim.

3 – Planejar
Sempre tenha uma idéia básica do que você vai escrever antes de sentar para escrever. Pense nela quando estiver no ônibus indo pra casa. Pense no conflito que está por vir, enquanto estiver tomando banho. Discuta uma cena iminente no jantar (e se você estiver sozinho, conte a qualquer bichinho de estimação ou objeto inanimado das redondezas). Independente de como você organiza as coisas, na hora em que sentar para escrevê-las, a cena estará quase na sua cabeça. O bloqueio criativo não existe se você planejou a próxima parte da história.

4 – Prazo final

Arrume um prazo final realista, ainda que rígido, para você mesmo. Se você estiver escrevendo uma historinha curta, por exemplo, defina o seu prazo para o dia depois daquele em que você antecipar o término da pesquisa. (Confuso, né?) Nada de desculpas. Se você estiver escrevendo uma história mais longa, atente para suas próprias limitações, mas não fique protelando para sempre.

5 – Pressão
Esteja sob pressão. Ninguém cria um bom trabalho sob pressão, mas será suficiente para ter um rascunho completo, terminado. Aí você poderá revisá-lo e aperfeiçoá-lo. Determine um prazo, depois mande um e-mail para seus amigos e chame a sua família. Conte a eles sobre seu projeto. Conte a eles quando você quer terminá-lo. Depois, diga que eles devem chamar você (ou mandar um e-mail) nesse dia para ler o resultado. Se você não tiver completado a tarefa, eles estão autorizados a esculachá-lo e ridicularizá-lo até não poder mais. Isso é pressão! E também é a obrigação de dar conta. Pode ter certeza de que vai te motivar.

6 – Ideias
Mantenha um arquivo ou um bloco de notas de ideias que te ocorrerem. Leve-o sempre junto com você e anote tudo que parece interessante. Isso pode não se encaixar na sua história atual, mas pode inspirar alguma outra coisa mais pra frente.

7 - Multi-tarefa
 Trabalhe sempre em mais de um projeto. Parece até a maneira mais fácil de se distrair, mas funciona. A mente é uma criatura estranha. Se você iniciar três projetos ativamente de uma só vez, a qualquer momento ela se recusa a cooperar com uma situação do roteiro ou do personagem. Mude para a outra história, então.

8 – Editar
Nada de piedade aqui. Você tem um prazo, então corte suas amadas palavras até chegar ao essencial, onde a real história se esconde por baixo de toda a prosa florida. Certifique-se de que os olhos do personagem são da mesma cor do começo ao fim. Verifique se o roteiro faz algum sentido, e saiba quando jogar fora as palavras que você ama. Você pode colocá-las a qualquer momento em um “arquivo de idéias” e usá-las depois, por isso não se apavore.

9 – Enviar
Pra que escrever se você não vai mostrar o resultado para o olhar crítico de um completo estranho? Você precisa fazer um pequeno dever de casa, encontrar um público adequado para sua história e mandá-la para fora de casa. Não amanhã; agora. Está escrito, editado e arrumado, por isso não é bom deixá-la na última gaveta. Mande para uma editora também – uma editora com a qual o seu livro tenha a ver, é claro. Se for rejeitado, nada de tristeza. Envie de novo. Se o seu trabalho for bom, tenha certeza de que ele encontrará um espaço.


10 – Escrever mais
Como assim, só isso?! Pode crer. É bobo, mas é verdade. Desligue a televisão. Ponha as crianças na cama mais cedo. Levante da cama uma hora antes. Leve um gravador de bolso com você no carro. Rascunhe coisas no seu horário do almoço. Finja um problema de estômago e tranque-se no banheiro por uma hora (é por sua conta e risco!). Leve um bloco de nota para a cama em vez de um livro. Pare de navegar pela internet e abra um arquivo de texto.
Escreva mais.


E aí? Foi útil? Para mim, foi.

terça-feira, 22 de março de 2011

It's been a hard day's night, and I've been workin' like a dog


Em primeiro lugar, vamos tentar combater nosso desânimo. Quando as coisas não vão do jeito que queremos, nos perguntamos frequentemente o que nos faz pensar que podemos escrever. Inventamos desculpas para nós mesmos e cada vez mais sufocamos nosso esforço criativo. A verdade é que nada nesse mundo é fácil, e se pensamos que escrever era, só porque nossos livros favoritos parecem tão perfeitos, estivemos redondamente enganados.
Você precisa encarar o desafio, combater as incertezas dessa mente pessimista e eis aqui alguma munição.

Quando sua mente disser que você não é criativo o bastante para ser escritor...
Pense da seguinte forma: Desejo e criatividade geralmente vêm juntos. A criatividade está em você, se o seu desejo é mesmo escrever. Você é batalhador suficiente para ser um escritor? Ao ser criativo, você colocará para fora uma parte de si mesmo, e ela estará a mercê do mundo, sujeita a todo tipo de crítica. Outra parte sua vai ficar sempre falando: “Desse jeito, não! Desse jeito, não!”.
A verdade é que algumas pessoas nasceram pra escrever e outras nasceram pra ser críticas. Deixe que falem o que quiser do seu trabalho. Você fez a sua parte.

Quando sua mente disser que você deve escrever só quando tiver aprendido a fazer isso direito, senão estará apenas reforçando seus péssimos hábitos de escrita...
Saiba que: se for pra ficar esperando até escrever direito, então você nunca irá escrever. A opinião das pessoas sobre o que é uma escrita boa diverge bastante. Escrever é como aprender a andar de bicicleta. Você pode saber muita coisa sobre como fazer, mas se não montar na bicicleta, nunca vai dar uma pedalada sequer. Então, escreva toda vez que sentir vontade. Escreva agora!

Quando sua mente disser que você deve ter todo o projeto do livro elaborado antes de começar a escrever...
Saiba que: escrever antes de organizar o enredo da sua história é como passear no breu com uma lanterna. Em um terreno pouquíssimo conhecido, é claro. Você só pode ver até onde a luz alcança, e não vai ter muita certeza do lugar para onde está indo. Se você deixar passar a trilha certa enquanto estiver passeando, porque sua visão estava limitada, e pegar o caminho errado de volta à segurança, como fica? Alguns dos melhores passeios acontecem quando a pessoa se desvia da rota que tinha planejado em primeiro lugar.  Se sua escrita levar você a uma direção não planejada, cole nela. Pode ser sua inspiração combatendo aquelas vozes negativas pra você.

Quando sua mente disser que você tem que escrever corretamente; prosa, gramática, enredo, estilo, tudo correto, etc...
Lembre-se que: pensar que tudo deve ficar perfeito significa que você está editando e depois escrevendo. Assim, meu amigo, você não vai ter algo escrito nunca. Primeiro você escreve, depois você edita. Não ligue para o primeiro rascunho, ele não é um teste para avaliar sua qualidade como escritor.
Diminua suas expectativas. Diminua seus padrões normais. Permita-se a si mesmo escrever coisas capengas, coisas que você largaria no primeiro parágrafo. Você não precisa ter sempre um desempenho supremo na escrita. Um trabalho mediano, muitas vezes, irá satisfazer os seus objetivos. Mais tarde, você terá oportunidade para revisar e lustrar esse trabalho quantas vezes achar que deve. Relaxe: não se preocupe em ser perfeito; apenas consiga algo escrito. Você sempre pode editar depois.

Quando sua mente disser que você nunca será um “escritor”...
Lembre-se que: você não precisa que uma graduação, um ritual de passagem ou um momento dramático aconteçam para que possa chamar-se de “escritor”. Não é porque seus escritos não foram publicados que você é menos escritor. Assim, você está apenas transferindo a outras pessoas o poder de decidir quando surge sua autenticidade.
 É claro que um escritor publicado se sente legitimado e bem sucedido, mas muitos não se veem como muito mais do que eram antes de terem seus livros na livraria.

Se sua mente disser que quando o momento é certo, quando o planejamento está claro e quando você se sentir impulsionado, você vai escrever...
Repita para si mesmo até decorar: É preciso escrever todo dia. Escrever alguma coisa. Escrever qualquer coisa. Pra ser capaz de resolver uma prova complexa de matemática, você deve fazer exercícios dos mais simples aos mais complicados sempre que puder. Isso fixa o raciocínio na sua cabeça de tal forma que é quase como se ela passasse a resolver problemas automaticamente.
O mesmo acontece com escrever. Se você quer que seu lado escritor faça algo por você, você tem que exercitá-lo regularmente e torná-lo maior para que esteja forte quando for necessário.

Quando sua mente disser que você perde muito tempo pensando sobre o que vai escrever...
Lembre-se: você tem que pensar antes de poder escrever, senão sobre o que vai escrever? Para alguns escritores, a maior parte do trabalho, a parte que mais exige, não é aquela em que eles estão digitando o texto, mas sim aquela em que estão realizando outras atividades. Essas são as horas de pensar. Se eles não tiverem pensado sobre o texto antes de sentar para escrever, já se consideram atrasados, mesmo tendo começado a escrever na hora marcada.

Quando sua mente disser que a boa escrita só vem quando você está inspirado...
 Grite para si mesmo: a boa escrita também vem em momentos dolorosos. É preciso pensar bastante para fazê-la sair. Ela vem depois que se reescreve incontáveis vezes, e não apenas quando se está inspirado. Muitas vezes, a inspiração está diretamente ligada a prazos finais. Quanto mais tempo a pessoa tem, mais desculpas ela inventa. Quanto mais perto da hora crítica, mais o jorro criativo flui. Parece que todo o pessimismo vai embora quando o tempo está se esgotando, não é?


Ufa!! Espero que tenham gostado. Eu gostei bastante. Me lembrou coisas que estou sempre esquecendo. Guarde bem esses conselhos com você e boa escrita! Quando terminar o livro, deixa eu ler pelo menos um capítulo, hehe.

Alegria, Alegria


Olá, leitor imaginário, tudo certo!
Agora estou aqui para ajudar você e me ajudar. Como assim? Muitos, como você e eu, têm o sonho de se tornar escritor. Mesmo em um trabalho enfadonho, mesmo adiando a tentativa por vezes sem fim, bate aquele comichão de por uma ideia no papel, de desenvolvê-la. Às vezes, vemos uma situação curiosa e pensamos: e se acontecesse isso, depois isso e depois aquilo? E se em vez desse senhor idoso conversando com a caixa da farmácia e me atrasando houvesse uma senhora idosa e eu fosse um play boy impaciente? (Pensei nisso ontem...) Será que rolaria confusão? Como seria o bate-boca deles?  E aí, meu amigo, sentiu sua cabeça fervilhar de ideias? Você tem o que eu batizei de scriptophilia (em bom português, tesão pela escrita) – e nem o Google conhece essa palavra!
Mas infelizmente, nós não conseguimos organizar nossas ideias, desenvolver os personagens, as situações e pensar em um bom final, então desistimos. Perdi a conta de quantas vezes desisti, e não quero seguir com isso. Não quero que você desista de continuar tentando, por isso postarei aqui várias dicas valiosíssimas que tenho lido em livros pela Internet – abençoada Internet! Os textos estão originalmente em Inglês, vou ter que queimar a cuca para traduzi-los, porém não tem problema.
A maioria deles são americanos, se não me engano. Uma professora me disse recentemente que há um grande incentivo para novos escritores por lá, eles realmente acreditam que o ofício de escritor vem, principalmente, por saber dominar bem a técnica. É aquele velho papo de que você pode ter um talento extraordinário, mas se não aperfeiçoar a técnica, os métodos, não chegará a lugar nenhum. Se vai sair uma boa história ou não, é outra...história... Enquanto isso, as coisas no Brasil são muito romanceadas: a ideia geral é a de que a pessoa tem que nascer iluminada pelo talento divino de saber escrever. Se Deus não deu o talento, então deixa essa pessoa pra lá. Tudo bem, cada terra com sua crença e quem quiser que corra atrás. Vamos atrás, então, leitor imaginário.
Vou separar as dicas de acordo com os tipos de livros e textos que possuo. São elas:
  • Enredo (inclui diálogo, cenas, cenário, personagens, etc.)
  • Como ter ideias criativas.
  • Diálogos.
  • Cenários.
  • Erros dos aspirantes a escritores.
  • Como escrever fantasia e ficção científica.
  • Etc.

Mesmo que seus olhos tenham brilhado para um ou outro ponto, asseguro que todos eles são igualmente importantes. Descobriremos juntos como trabalhar com cada um. Vale dizer que serão apenas dicas, diretrizes, que de alguma forma te ajudarão, mas não é preciso segui-las à risca, religiosamente, se não sentir necessidade. Você pode adaptá-las da maneira que melhor lhe convir. De qualquer jeito, é importante saber as regras se quiser subvertê-las.
  Qualquer dúvida que surja na leitura dos textos, por favor, encaminhe. Ah, sim. Não há problema em ficar empolgado e querer saber mais o mais rápido possível, mas temos (eu tenho) que ir com calma nos textos que postar, afinal tradução não é só colocar no Google Tradutor, depois copiar e colar. Muitas vezes, ela dá uma rasteira e... mas que papo chato, né? Não lembro de mais nenhuma recomendação no momento, então vamos tocar essa bagaça.  

quinta-feira, 17 de março de 2011

Pra não dizer que não falei das flores...


Não tenho um nome para essa poesia - deve ser poesia...Sim, é poesia, sim. Não soa como sertanejo universitário, nem pagode, nem funk, então é poesia. Mas continuando, se fosse para dar um nome agora, no susto, eu chamaria de "O corpo". Misterioso, hein...

Meu coração,
ao conhecer teu sorriso e tuas covinhas,
pediu que minha mão
te descrevesse em várias linhas.
Ela rabiscou, rascunhou, escreveu
mas nenhum traço parecia com os teus.
Teus traços são cheios de travessuras,
Riscam da minha cabeça várias outras criaturas.
Meu olhar,
ao andar por teus contornos,
lançou meu ansiar
em caminhos sem retornos.
E a minha mão arriscou outra vez
te traduzir para rabiscos em português,
mas é tarefa ingrata tentar aprisionar
cada detalhe que parei pra admirar.
Minha garganta,
ao te ver por perto,
sente que minha voz se adianta
sem nem a boca eu ter aberto.
Por mais algum tempo, minha mão insistiu
até que conversou com minha mente e desistiu.
Chegou à conclusão assente
Que versos solitários não vão pra frente.
A mente havia dito, e até o coração concordaria,
que verdadeira poesia,
só o corpo todo escreveria.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Enchanté, messiuers et mesdames!


Bom, comecei... e isso é realmente um grande feito, visto que eu queria ter começado desde janeiro. Janeiro?, você pode se perguntar (se é que tem alguém aí “do outro lado da conexão”). Pois é, leitor imaginário, eu pensei em iniciar postagens aqui há dois meses, mas isso não aconteceu, porque queria que meu primeiro texto fosse algo bonito, inspirador, algo bem trabalhado até o pingo do último i. Bem se vê que não só a pressa é inimiga da perfeição; o excesso de preciosismo também.
Há alguns dias olhei para a página vazia deste blog (mas com uma figura de fundo bonita que só, vamos admitir) e pensei: Que droga, não vou enviar texto nenhum pra cá? Então, decidi largar as frases rebuscadas, os parágrafos que vão tentar fazer você chorar e escrever o que me viesse à cabeça. É melhor assim, não ir atrás de nenhuma joia literária e entregar textos espontâneos. Em alguns momentos, vão estar uma droga e vou me arrepender de tê-los enviado, mas também pode vir uma coisa boa. Ler muito tem que trazer uma ideia inspirada de vez em quando. Em uma comparação bem esdrúxula – e que vai fazer você me odiar ao chegar ao próximo ponto final -, ao alimentar nosso corpo, não só eliminamos excrementos, mas também nos abastecemos com energia para realizar aquelas atividades divertidas que tanto gostamos. Fiz você pensar em momentos desagradáveis no banheiro, né? Desculpa aí... Foi a primeira comparação que veio à cabeça.
Pulando para o que interessa, leitor imaginário, você deve estar se perguntando o que é afinal esse blog? Para o que ele serve? Leia o trecho do meu primeiro texto bonitinho e você vai ter uma ideia.

Em primeiro lugar, o que é “voar com palavras”?
Eu acredito que você já tenha uma excelente ideia do que seja, mas permita que eu explique do meu ponto de vista. Voar com palavras é embarcar e viajar por meio do desprendimento que as palavras conseguem promover, é alcançar o céu, desligar-se da realidade por alguns momentos. (Qualquer semelhança com certas substâncias proibidas é mera coincidência.) Eu embarco nesses voos desde criança, tanto como passageiro quanto como piloto, escrevendo historinhas aqui, outras ali. Como não podia deixar de ser, chegou uma hora que esse gostinho esporádico se transformou no sonho de me tornar um escritor.

Meu primeiro blog tinha esse nome: voandocompalavras.blogspot.... Lá eu postava alguns textos que tinha escrito e sobre os quais queria ter uma avaliação vinda de gente que eu não conhecia. É claro que também servia para me incentivar a continuar escrevendo, afinal a ideia de ter meus preciosos escritos na Internet era e sempre foi instigante. Logo, a proposta desse aqui é, sem tirar nem por, a mesma. Dançar com as letras é basicamente o mesmo, acredito eu.
Não espere aqui nenhuma grande peça da literatura contemporânea brasileira, assim como você não espera nenhum filmão nacional no Youtube, ou uma citação de grande valor universal no Twitter. Foi justamente por querer escrever textos grandiosos que me frustrei comigo mesmo e parei de postar no primeiro blog, e esse erro quase seria cometido aqui. Quero me divertir, me distrair com as palavras e se surgir algo digno de nota, será por acaso.
Agora que já deixei isso combinado entre mim e você, e entre mim e mim mesmo, pense em suas escolhas. Por que? Porque...

Coincidência ou não, falo de escolhas na apresentação daquele texto – acreditem se quiser eu não li aquele texto antes de elaborar a estrutura deste. Essa coincidência é sinal de alguma lição despontando no horizonte, luminosa, instrutiva e abrasadora? Não posso dizer assim tão cedo, mas o que posso dizer já está naquele “falecido” blog. “Decidi criar um blog para movimentar a mão, trabalhar as palavras, brincar com elas, não deixar o desejo morrer.” E por falar em morrer, não considero que o Voandocompalavras tenha mesmo morrido. Ele está aqui neste momento, seu sangue corre nas veias deste blog, como se fossem parentes,irmãos ou até pai e filho. Eu estarei voando com palavras enquanto as letras dançam e espero que você, se é que tem alguém aí, faça o mesmo.


Aquele texto é o texto de apresentação do voandocompalavras.blogspot.com. Dê uma passada lá e o leia na íntegra. Vai ser quase como ler esse aqui de novo.
Pois é, e vamos que vamos sem lógica nenhuma mesmo. Ou será que tem alguma lógica e não percebi?