segunda-feira, 30 de maio de 2011

Superman ficou fraco, o Pinguim jogou criptonita



Ah, o que que é isso?, você se pergunta. Ele vai apelar para axé! O que axé tem a ver com elaborar ficção?
Bom, tem a ver se você quiser escrever sobre a trajetória de um grupo de axé fictício...
Contrariando a expectativa de outros, também não vou falar sobre quadrinhos, nem postar nenhuma tirinha. Vocês podem ver ótimas tirinhas no blog do meu amigo Daniel www.tiradejornal.blogspot.com
A conexão é a seguinte: Superman é vulnerável à criptonita e à...? Magia!! (Isso é muito nerd pra você, né?) Falemos então de magia e fantasia... falemos de como elaborar um universo mágico que seja crível. Sei que muitos adoram um mundo de fantasia, cheio de magos, bruxos, duendes, elfos e por aí vai. Então, por que não saber um pouco mais sobre como construir um? O texto a seguir é uma tradução livre de um texto que vi no site FictionFactor.com.

..................

O que diferencia a fantasia dos outros gêneros?
Ela pode usar o mesmo cenário que um mistério moderno ou um romance histórico, então porque ela não é nenhuma dessas duas coisas? Em primeiro lugar, o tom ou ênfase de um história de fantasia não está no romance ou no mistério, embora ela possa conter poderosos elementos dos dois. A maior parte dos textos de fantasia vai conter algum elemento de magia, sendo ela inerente ao cenário ou aos personagens ou a algo que pode ser manipulado.
O primeiro passo ao decidir adicionar magia ao seu mundo é: quem ou o que a terá ou irá usá-la. Ela será de todo mundo ou de uma minoria seleta? Ela será aceita como coisa comum ou será temida e proibida por lei? Ela será parte natural dos habitantes?
Quem usa ou possui magia em seu mundo afetará consideravelmente o seu roteiro e sua caracterização. Se a magia é limitada a uma minoria seleta (Harry Potter) como o resto do mundo reagirá? Um usuário de magia será banido ou perseguido? Considere o extremo oposto. No primeiro livro Xanth, Bink foi exilado por não possuir um talento mágico. Seu mundo pode carregar ambos os pontos de vista ou estar em algum entre os dois. A série Harry Potter é uma mistura dos dois: no mundo "real", a minoria tem talentos mágicos que são mantidos em segredo; mas na comunidade mágica, aqueles que nasceram sem magia são tratados com pena e/ou desprezo.
A maior parte das histórias de fantasia limitam a magia disponível para os personagens por uma razão muito importante: conflito. Se todo mundo possuir magia ilimitada, onde está o potencial conflito? Se um feiticeiro pode transformar todos os seus inimigos em poeira ao primeiro sinal de problema, então fica quase impossível criar tensão. O feiticeiro (bom ou mau) precisa ter possibilidade de ser derrotado, senão o suspense se esvai.
Coerência é um assunto de suma importância ao se desenvolver sistemas mágicos. Se de repente a feiticeira Ickabette se lembra na página 400 que pode aniquilar seus inimigos com um pensamento, então o mundo que você criou perde credibilidade.
Muitos escritores confundem coerência com inflexibilidade e sentem que não hã espaço para o crescimento ou para a mudança. Isso não é verdade. Um personagem que na página 3 tem problemas em acender uma vela ainda pode incinerar uma cidade inteira na página 300 se a história suporta essa mudança, ao dar ao leitor a impressão de que o personagem está crescendo em poder e habilidade. Em nenhum momento, as habilidades de um personagem devem mudar milagrosamente para resolver o conflito final da história (intervenção minha: já ouviram falar de Deus ex Machina? Se não, deem uma olhada aqui).
Em A maldição de Chalion de Lois Bujold, o personagem principal realiza um milagre, mas Bujold construiu seu mundo em torno dos cinco deuses/deusas e seu histórico de concessão de poderes milagrosos a uma minoria escolhida. A história conduz magistralmente a essa conclusão e o leitor não é deixado com a impressão de que o escritor é um trapaceiro.

Fonte:
A origem da magia em seu mundo pode ser um ponto muito importante. Ela pode ser um poder universal (a Força), um dom de Deus ou de outra divindade (mitos de diversas partes do mundo usam esse sistema), pode ser baseada na natureza (os elfos de Tolkien) ou derivada da força da vida (a trilogia Secret Text de Holly Lisle é um excelente exemplo).
Técnica:
Se seus feiticeiros, magos ou bruxos precisam de ingredientes especiais e ervas para fazer a magia deles funcionar, então onde eles acham esses ingredientes? Se a magia é usada abertamente, eles podem achar o que precisam em lojas e no mercado? Se a magia é temida ou proibida por lei, que distâncias eles têm que percorrerm  a fim de obter os componentes necessários?
Katherine Kurtz usa ritual mágico nas suas séries Deryni, que tem a Igreja Católica como inspiração. A quantidade de detalhes que você usa para mostrar a seus leitores como a magia funciona em seu mundo vai depender do seu estilo de escrever. Kurtz constroi a tensão lentamente e boa parte do conflito na sua primeiro trilogia acontece dentro dos personagens e não fora. Já Tolkien também leva a trilogia Senhor dos Anéis em um ritmo mais lento do que algumas histórias de fantasia; ele não perde muito tempo explicando como seus magos usam seu poder. Ocasionalmente, há palavras (ex: Gandalf na ponte enfrentando Balrog), mas muitas vezes a magia é bem simples.

Poder:
A quantidade de poder que um feiticeiro possui vai depender em grande parte do roteiro da sua história e do papel do seu feiticeiro nesse mesmo roteiro. Muitas históris favorecem a puberdade como o momento do "despertar" dos talentos mágicos ou a época de crescimento extremo desses talentos. A razão para isso é a incapacidade de uma criança pequena ou um bebê de entender as consequências de suas ações (é por isso que nós não damos aos pré-adolescentes o direito de dirigir carros em nosso mundo).
Independente de como seus personagens usam magia e de como ela interage com outras criaturas e forças, ela precisa seguir um conjunto de regras. Coerência é valiosa no universo mágico. Sem isso, a magia se torna o elixir milagrodo que conserta roteiros defeituosos e resgata mundo muito mal desenvolvidos.

.......................................

E aí, deu para se animar em elaborar uma história de magia e seguir as regras da cartilha para torná-la mais crível?
Em caso afirmativo, escreva aí nem que seja um pequeno conto, poste no seu próprio blog ou me envie pra eu dar uma olhada! Boa semana a todos, tchau!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eu sempre quero mais que ontem



Olá, amigos, tudo bom? Estou de volta depois de...11 dias, com um assunto relacionado aos erros que nós, aspirantes a escritores, podemos cometer - e tenho certeza que muitos de nós cometem. É o erro de se achar esperto demais. Não precisa ficar preocupado achando que pensar em algo muito elaborado para dar autenticidade a sua história é um erro. O problema de que estou falando é quando nós nos sentimos com o rei na barriga a ponto de acreditar que somos melhores que outros que estão tentando ser escritores, que somos melhores que os ficcionistas da atualidade, que nossos leitores são um bando de patetas. Uma coisa é ter auto-confiança; outra é passar disso e ser arrogante.
Para resumir, temos que nos pôr em nosso lugar.
Não acredite que os escitores de antigamente são melhores e que por isso você deve escrever como eles, e nem que os escritores estrangeiros são os "caras" e que você deve segui-los. Também não ache que por gostar dos que são mais famosos, clássicos ou refinados, você escreverá melhor do que aqueles que, na sua opinião, não são nada disso. Se um leitor em potencial encontrar seu texto e perceber nele a sua arrogância (eles sentem, pode crer), irá se sentir desencorajado por causa dela. Quem perde é você.  Bons escritores escrevem humildemente, pois sabem que são meros mortais. Não menospreze os leitores. Não se ache intelectualmente superior a eles. A verdadeira ficção não vem da cabeça, mas sim do coração.  O trabalho da ficção é penetrar bem fundo nas emoções humanas, e depois retratá-las... recriá-las... comovê-las. A grandeza da partilha de emoções é bem maior que a grandeza do QI.
Se você se considera bom demais - e pensa que o público é um povo ignorante -, é melhor reconsiderar suas atitudes. Quando os leitores perceberem que você faz pouco caso deles, passarão a odiá-lo por isso.
Pense da seguinte forma:
Você é esperto - que bom, que a Força esteja sempre com você. Mas para provar que é inteligente mesmo, um dos desafios é manter a atitude esnobe longe dos seus textos. Será que você consegue? Na verdade, nem é preciso ser tão inteligente assim para escrever ficção. Basta ser sensível e dedicado.
Para resumir este texto todo, lembre-se e anote:

  • Nunca menospreze seus leitores.
  • Não presuma que seus leitores são menos inteligentes que você.
  • Nunca despreze os trabalhos que já foram publicados.
  • Você se acha esperto o bastante para fazer boas histórias? Conversa fiada!
  • Desça à terra dos meros mortais! É onde os leitores estão.
Como diria a camisa de um amigo meu: Gentileza gera gentileza. Acaricie seus leitores com gentileza por meio dos seus textos, que eles retribuíram com elogios.
Até mais!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Dizer o que eu posso dizer? - Parte II


E aí, rapaziada! Quem achou que eu não voltaria esta semana levanta a mão. Opa...levantei a minha aqui.
Muito bem, pessoal, vamos a mais liçõezinhas sobre o diálogo na ficção. Encontrei esse texto há pouco tempo na Internet. Ele foi escrito por um rapaz que é jornalista, e ele discute a importância de haver depoimentos tanto no jornalismo quanto na ficção.
O começo é aquela história que já conhecemos, graças ao primeiro texto sobre diálogo que postei aqui. O diálogo faz a história ganhar vida. O diálogo conta a história do ponto de vista do personagem. (O destaque é meu; achei essa explicação muito boa). O diálogo permite-nos decidir por nós mesmos quem é o personagem, porque ele está fazendo o que está fazendo, e como ele decide resolver o próprio conflito. Um bom diálogo muda o ritmo de toda a escrita. 
O autor prossegue nos dando esclarecimentos sobre jornalismo. Segundo ele, lá o diálogo é a interrupção da descrição dos eventos feita pelo repórter. O diálogo não apenas quebra o que  eles chamam de “espaço cinza” sem fim, mas também acrescenta credibilidade a um artigo. Dois repórteres podem cobrir uma  matéria de duas formas diferentes, trazendo ao trabalho sua própria bagagem educacional, histórias pessoais e influências. O diálogo, entretanto, é constante, uma citação que permite aos leitores ouvir o que realmente foi falado, independente do que os repórteres estejam dizendo. Nos coloca no cenário do incidente, permite-nos decidir sobre o que aconteceu.
Em ficção, acontece o mesmo. Como escritores, nós damos a nossos leitores a história que vemos em nossa cabeça, baseada em nossa própria bagagem educacional, histórias pessoais e influências. Estamos contando aos leitores o que queremos que eles saibam, mas quando acrescentamos diálogo damos credibilidade aos personagens, permitindo que os leitores testemunhem essas pessoas em ação e julguem por si próprios.
Quando as pessoas falam na ficção, os leitores escutam atentos como se estivessem todos no mesmo quarto. Nesse momento, a história não está sendo contada a eles; eles a estão escutando às escondidas. Eles se tornam uma parte da história.
Como não podia deixar de ser (agora quem fala sou eu, Alex, não o rapaz jornalista), há uma pequena lista de dicas, extraídas da experiência jornalística, para ajudar na elaboração de diálogo eficazes. Talvez alguns de nós já as conheçam, mas vale a pena relembrá-las para que estejam sempre presentes na nossa rotina  como escritores:

1. Entreviste seus personagens para conhecê-los melhor. Isso não é coisa de doido, não. Se você pode imaginar um monte de personagens na sua cabeça, então pode colocar todos eles sentadinhos a uma mesa para uma entrevista. Visualize-os a sua frente, pegue o seu bloquinho de anotações de repórter e lhes faça perguntas, qualquer coisa, desde o que eles sentem até a relação deles com pais, irmãos e companheiros. Você vai ficar impressionado com o quanto essa técnica pode ser eficaz, ainda mais quando os personagens são vagos e rasos na sua cabeça. Tente botar pra fora os pensamentos mais profundos que eles têm. Observe todos os movimentos que eles fazem. Anote tudo isso até você saber exatamente quem são essas pessoas. 

2. Só deixe o que for bom mesmo. Muitas vezes, um repórter da televisão vai gravar horas de conversa para só mandar para o ar alguns poucos minutos que valem a pena. Por que? Porque os espectadores não querem acompanhar longas explicações. Eles querem a versão fácil e resumida, o trechinho de vinte segundos que diz tudo. (NOTA: Por isso, nunca acredite que a TV te apresenta toda a história por trás de um incidente). Em outras palavras, apenas os fatos. Em ficção, tagarelice, falas arrastadas, extensos argumentos repetitivos podem ser realista, mas quem quer ler muito realismo? Há uma razão para chamarem isso de ficção. Dê aos leitores as partes interessantes e deixe de fora o restante. Resumindo: não tenha preguiça de escrever muito, mesmo sabendo que vai ficar só com uma coisinha de nada.

3. Ouça as pessoas a sua volta, principalmente aquelas que você deseja imitar em seu livro. Preste atenção à cadência de seu modo de falar, o sotaque, as expressões. Seja um gravador ambulante, depois use essas distinções para expressar seus vigorosos personagens. Na mesma linha, dê a cada personagem, homem ou mulher, sua própria voz. Seja abelhudo mesmo!

4. Evite estereótipos e dialetos. Grandes nomes da literatura conseguiram dançar conforme essa música, mas a regra geral faz alertas contra ela, especialmente se você está escrevendo uma ficção para a massa em geral, onde os leitores querem uma leitura rápida, de entretenimento. Mesmo que os dialetos tragam cores novas a sua história, expressões complicadas vão desacelerar o ritmo de leitura. Use expressões aqui e ali para lembrar aos leitores que os personagens têm sotaques e modos de falar únicos, mas, de forma geral, fique no português básico, usado pelo leitor médio. 

5. Use o diálogo para desenvolver seus personagens e fazer a história seguir em frente, de preferência tudo ao mesmo tempo. Nada melhor para levar uma matéria adiante do que um ótimo diálogo. Não importa o quanto a cobertura dos repórteres sobre o World Trade Center e o local do atentado tenha sido extensa; só o diálogo das pessoas que passaram por esses horrores pôde trazê-los de verdade para nossa vida; o diálogo nos colocou no lugar dessas. O mesmo vale para a ficção. Quando o conselho é formado no Senhor dos Anéis para determinar o que fazer com o anel de poder, os personagens dão opiniões diversas, o que tanto externa suas motivações interiores quanto mostra ao leitor para onde a história segue.(Nunca li Senhor dos Anéis, mas vi o filme. Deve ser a mesma coisa essa parte do conselho).

6. Torne o diálogo significativo. Nada mexe mais com as emoções do que um ótimo diálogo. Usar uma citação cativante para aprimorar a história comove os leitores mais do que as palavras de um jornalista ou de um autor.

 .......................................

Cá estamos, no fechar das cortinas desta postagem. Se você, querido leitor imaginário, tem outras dicas para dar, por favor, escreva aí nos comentários. Vai ser ótimo também se você(s) puderem relatar experiências de elaboração de diálogo, como foi, se foi difícil, em que conversas ele se baseou e por aí vai.
Por hoje é só, pessoal!











segunda-feira, 9 de maio de 2011

Dizer, o que eu posso dizer?




Olá, leitor imaginário, tudo bom? Sentiu minha falta? Eu também senti sua falta, amigo. Prometi postar aqui antes do feriado e não consegui cumprir. Desculpe. Aquela tradução em que estava envolvido é muito longa. Tanto que hoje vou até colocar outra aqui, que tem o mesmo propósito: dar dicas sobre como elaborar o diálogo em sua história. Espero que você não tenha abandonado sua história por minha causa, leitor imaginário. Tenha força e prossiga.
Agora, suponhamos que você tenha me perguntado "Dizer, o que posso dizer?", "que diálogo colocar na boca dos meus personagens?". Coloque um diálogo eficiente. Como assim? Explico.
Um diálogo eficiente faz o enredo andar. (Sabe o "enredo", né. O encadeamento dos eventos da história? Esse mesmo). Um diálogo eficiente aprofunda, ou traz novas camadas, aos seus personagens. Traz proximidade e intimidade, e traz com sutileza informações e emoções que são capazes de estimular a empatia do leitor. 
Entendeu? Hum... você quer saber o que traz essa eficiência para o diálogo. Vejamos: 
1º  Imitação da vida real: Não parece “morto” ou formal demais. O diálogo tem que fluir naturalmente. Mas atenção: Embora nosso desejo seja um diálogo que “soe” real, não é nosso objetivo mostrar um diálogo da vida real.  Os diálogos da vida real você sabe como são, né. Tem muita tagarelice sem utilidade. Traduzindo, ele é monótono, sem profundidade e um desperdício criminoso de um bom espaço. Em outras palavras, não rende nada.

 2º Dizer alguma coisa: Não deixe que os personagens perambulem pela história sem objetivo. O que eles estão dizendo tem que prestar para alguma coisa. Quanto maior a missão, mais eficiente o diálogo. Por exemplo, se o seu diálogo faz o enredo avançar, crie ou adicione um diálogo a um conflito já existente, e revele algo novo sobre o personagem. Aí, ele estará trabalhando bastante. O diálogo deve trabalhar bastante. Quanto mais funções ele tiver, mais ele ajuda a fortalecer a história. (Ou seja, diferente dos trabalhadores do dia-a-dia, acumular funções faz bem para o diálogo - não exagere, é claro).

Estabelecimento do ritmo: Mexa com o ritmo da história  através do diálogo. Não ignore o estado emocional do personagem. Se ele está irritado, não o deixe ter pensamentos profundos, nem falas extensas. Somos humanos. Quando estamos irritados, falamos aos pedaços. Com tons de voz oscilantes. Para converter a emoção em escrita, use frases e parágrafos curtos, resumidos.Lembre-se também de:
- Verbos vigorosos
- Nada de enfeitar as palavras
- Nada de coisas meigas
- Nada de diminuir o ritmo do leitor
Quando o leitor lê mais rápido, ele sente a urgência dos acontecimentos, a velocidade com que acontecem.
Por outro lado, para reduzir o ritmo em momentos delicados, comoventes, faça o oposto – deixe seus personagens se estenderem nos pensamentos, descansadamente, em ideias vagarosas, e permita que falem em frases fluídas, guiadas pela coerência, que se movimentam devagar na página.(Quase dormi.)
Essa ferramenta leva a emoção do personagem ao leitor. Ganha a simpatia desse leitor. E a simpatia dos leitores traz bons frutos. 

  Personagens não são clones: Não deixe que seus personagens soem todos iguais. Um play boyzinho impertinente não fala da mesma forma que um pedreiro, ou que um mestre de obras que mora na comunidade mais pobre da cidade. Um mecânico não está apto para usar a verborragia ou o padrão de fala de um gerente geral de uma empresa, nem de um jogador de futebol. Mantenha a linguagem (verbal e não-verbal) fiel ao personagem. Respeite-o, não tirando dele as características que o tornam um individuo único. O modo como cada personagem fala deve ser natural a este personagem. Se não for assim, então, meu amigo, você está insultando o personagem e a pessoa em quem você está se inspirando. E de quebra, vai irritar os leitores pra valer. 

Dialeto não é pra se usar a torto e a direito: Se for apropriado, use dialetos. Mas, lembre-se: de pouco se faz muito. Uma gotinha realça as coisas, mas uma inundação causa distrações (e destruições). Dialeto não é comum, é difícil de ler – e não faz parte dos elementos estruturais que vendem uma história. (Nota minha: não concordo tanto com o autor nessa parte, porque muitos dos romances mais populares da literatura brasileira são romances regionais, repletos de dialetos. Vide Grandes Sertão Veredas de Guimarães Rosa. Portanto, você segue essa dica aqui se estiver de acordo com ela, leitor.)

(Não) falar o que? O diálogo silencioso às vezes pode ser a mais poderosa forma de diálogo. Acontece quando o personagem diz o oposto do que pretende, não diz nada, ou simplesmente evita o olhar de outro personagem. Isso também é um diálogo eficiente. 

Linguagem corporal: O diálogo não é apenas o que se fala. Também é o que nós não falamos, e como nós não falamos. Você já disse “Sim” quando queria dizer “Não”? Já disse “Tá certo” em uma discussão, quando na verdade queria dizer “Não seja burro, seu imbecil”?
Eis uns poucos exemplos de linguagem corporal:

Raiva: Mãos fechadas. Olhos estreitos. Postura rígida. Queixo duro. Lábios apertados.
·          Felicidade: Sorriso. Piscadelas. Olhos cintilando.
·         Relaxamento: Espreguiçamento. Membros frouxos.
·         Interesse: Inclinado para frente. Olhar atento para quem quer que esteja falando.
      Delicadeza: Carícias, toques, lábios separados.
·         Nervosismo: Balançar incerto. Arrepio. Esfregando as mãos.
·         Espanto: Olhos saltados. Parado feito pedra. Mão no peito, dedos separados. Queixo caído.
·         Tristeza: Lágrimas. Apático. Mão apertando o peito. Ombros caídos. Posição fetal. 
....................................
      É isso aí, leitor. Se você gostou, dá um joinha aqui embaixo e não deixe de ver meu video anterior...ops!! Troquei as bolas, desculpe. De qualquer jeito, você pode continuar seguindo esse canal, ou melhor, blog. Esse post foi legal, foi útil? Há algo que você gostaria de acrescentar as dicas? Algo que você gostaria de pedir que eu postasse. Pode soltar o verbo, este espaço é seu (o espaço dos comentários, é claro).
Boa tarde e boa semana!
·

·       
·   
·        
·         


·    
·        



·  
·        

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Num momento crucial, o sábio soube saber que o sabiá sabia assubiár

Olá, leitor imaginário. Nos reencontramos depois de...13 dias. Estive bem ocupado, ironicamente fazendo algo que eu já faço aqui: escrevendo. Mas era um artigo chato e quadradão para um evento de pesquisa qualquer. Agora vamos falar de emoção, de reflexão. Postarei um texto mais especial sobre dicas para escritores mais para o fim dessa semana, então se segura na poltrona. Hoje vamos viajar nas minhas loucas reflexões, escritas há coisa de um ano. Como eu a achei curtinha, resolvi juntá-la com outra mais recente, no melhor estilo dadaísta de ser. Isso deu certo? Vejamos mais embaixo.
..................
Há muito calor no Sul e muito frio no Norte, mas os hemisférios têm algo em comum: terremoto. Dois grandes terremotos em menos de três meses, um no Haiti, outro no Chile. Seriam essas duas "sacudidelas" irmãs? É loucura pensar nisso, mas temos que considerar, no mínimo, que elas vieram do mesmo ventre: o ventre do planeta que, nas dores do parto, fez as placas tectônicas se agitarem. 
Às vezes penso que a Terra é um ser consciente tentando se livrar da raça humana com os recursos de que dispõe. Muito ficção científica essa ideia? Talvez desse um bom roteiro de filme...se bem que já fizeram um...acho que o nome é Fim dos Tempos.
Mas pense bem: a Terra é uma mãe amorosa que cuida dos seus filhos, que os alimenta bem ("Aqui, em se plantando, tudo dá"). A terra fornece abrigo, exuberância, saúde, energia, paz, proteção. Mas o homem não estava satisfeito só com isso. Queria mais, queria uma terra do seu jeito - e isso me lembra aquele poema do Mário Quintana falando algo parecido. O conforto que a terra oferecia não era o bastante. Que coisa triste...A natureza trabalhou milhares de anos até chegar na criatura mais desenvolvida no tocante à consciência de estar no mundo ("E ele o fez à sua imagem e semelhança"). Ela chegou à sua obra prima depois de zilhões de tentativas e erros, mas às vezes desconfio que talvez ainda não sejamos a sua obra-prima; talvez sejamos mais uma parte do processo de tentativa e erro. Eis que depois de orgulhosa de ter, pelo menos, chegado ao Homem ("E Ele viu que era bom"), ele lhe volta às costas e procura transformar-lhe de tudo quanto é jeito. A criatura se volta contra seu criador, a mais angustiante das tragédias, a que remonta todas as gerações. 
Este não é o mundo originalmente destinado para nós. Este é o mundo que construímos para negar o primeiro, para afirmar a todo momento a nós mesmos que somos superiores a tudo aquilo que a natureza destinou aos outros animais.
...
Se a natureza criou a vida, o Homem inventou a anti-vida. Basta olhar para tudo aquilo que degrada o planeta, que o transforma na lata de lixo da raça humana. Asfalto para sufocar a terra, fumaça para sufocar o ar, óleo para sufocar a água...de todo jeito, em todas as instâncias, o Homem promove o cinza melancólico da anti-vida. Ele sufoca o seu ambiente para dar fôlego a algo que ele mesmo criou para se distrair. Nesses dias de desemprego, venho aprendendo que nada é mais terrível do que dias parados e semelhantes. Nada é mais enlouquecedor do que ter pouco para fazer e fazer esse pouco do mesmo jeito, dia após dia, semana após semana. Talvez algumas culturas se adaptem bem a essa rotina. Mas outras não aguentaram o tédio e resolveram encher o mundo de distrações. Elas são tantas: astronomia, física, química, matemática, literatura, esportes, e por aí vai. A graça está nesse tumulto, não na paz de não saber, nem fazer nada.
....

terça-feira, 5 de abril de 2011

Perdão, Senhor, quantos erros cometi...


Calma, amigo! Você não precisa apelar para Deus. Tá certo que nos sentimos mal quando nós, aspirantes a escritores, não nos dedicamos como deveríamos às histórias que queremos escrever, mas isso não é nenhum pecado mortal (a não ser que sua religião diga que é). Fique tranqüilo. Nós vamos é aprender sobre os erros mais comuns aos pretendentes a escritores de ficção. Bom, alguns vão aprender, outros vão revisar, e todos vão adotar estratégias para não deixar esses erros minarem a nossa meta: terminar uma história e encher as bienais com cada vez mais livros de bons autores de ficção nacionais.
De onde vem as informações que você está prestes a passar?, pergunta você, imaginário, mas curioso leitor. Elas vêm de um livro que encontrei em que o autor lista e destrincha nossos erros mais comuns (na opinião dele), totalizando 38 capítulos. Não sei se vou colocar os 38 aqui, porque alguns deles podem ser iguais aos anteriores, só que em outras palavras. Vamos ver. À medida que eu for traduzindo, eu vejo se são informações novas, ou se eu tô chovendo no molhado.
Sei que é meio chato ficar colocando dicas gerais sobre o processo da escrita, em vez de falar logo de diálogos, montagens de cenas, construção de personagens, mas é porque acredito que sem uma disciplina básica nada da parte mais específica será posta em prática. Seria como querer aprender no violão o dedilhado daquela música que você adora sem sequer saber o “nome” das cordas e a escala das notas musicais. E sem saber ler tablaturas.
Então, vamos lá para o resumo do primeiro capítulo:

1. Não invente desculpas

A pena do autor desse livro é sarcástica, por vezes ácida. Ele começa esse primeiro capítulo citando tiras cômicas em que a piada são as pessoas que querem de escrever, mas inventam desculpas para justificar sua “preguiça” em começar. Numa delas, o homem diz à mulher que vai esperar “a inspiração chegar” e envelhece na espera.  Nosso querido autor declara que o mundo está cheio de pessoas boas o bastante para construir uma vida como escritores. Porém, para a sorte daqueles que já estão no mercado, a maioria delas tem mais criatividade para fugir do esforço do que para encará-lo (isso é duro de se ouvir).
Muito bem. Se você está querendo seriamente enfrentar o ofício da ficção, nunca invente desculpas para si mesmo. Evite:
  • Dizer que está cansado demais.
  • Adiar para “depois”.
  • Não conseguir escrever porque está ocupado demais no momento.
  • Esperar pela inspiração.
  • Planejar para ir direto ao ponto “amanhã”
  • Desistir por causa de editoras, leitores, críticos e etc.
  • Dizer a si mesmo que está muito velho (ou muito novo) para começar.
  • Culpar a sua família pela SUA falta de tempo.
  • Dizer que o trabalho exige demais e que vai fazê-lo perder outras atividades.

Nada, a não ser uma tragédia de verdade, deve se intrometer entre você e a sua disciplina como escritor de ficção. Estamos nos enganando pra valer se acharmos que nossos escritores favoritos têm tempo ilimitado, que não lidam com problemas mais urgentes e que estão sempre na maior disposição para sentar ao computador e escrever. É claro que não! (Exclama o autor, e eu posso imaginá-lo bem exaltado). Escrever pode ser divertido pra caramba e extremamente recompensador. Mas é um trabalho duro.
Tá certo, ninguém gosta de trabalho duro dia após dia, semana após semana (eu que o diga). Todo mundo quer sombra e água fresca. Quando a história vai mal, não tem um escritor que sinta prazer em manter a rotina, concentrado no texto. É nessa hora que as desculpas pipocam. Mas os profissas não se deixam levar por elas facilmente.  
As desculpas, as reclamações, as atividades paralelas, tudo deve ser combatido ao longo do tempo; um escritor de verdade vai trabalhar. Re-gu-lar-men-te.
O autor faz a seguinte conta: se você escreve uma página por dia, ao final de um ano terá 365 páginas. Se você gastar o ano seguinte reescrevendo e revisando no mesmo ritmo, terá uma história para enviar a uma editora (ou para ser inscrita num concurso). Segundo o autor, esse é mais ou menos o método dos escritores que mais vendem (nos EUA, eu acho).
Agora, se você passar metade do tempo inventando desculpas, na melhor das hipóteses terá um livro em quatro anos. Muito tempo, não é? Se você passar 75% do tempo inventando desculpas, aí, meu amigo, não vai terminar a bendita história nunca.
O jeito profissional de fazer o trabalho é ser consistente, persistente e obstinado. Depois de um tempão, se o trabalho for rejeitado por todo mundo, não deixe que isso vire uma desculpa também. Eventualmente, todos os escritores constroem histórias inatacáveis. Mas para chegar lá é preciso continuar persistente.
O autor indica o seguinte método para se evitar criar desculpas: pegue um calendário baratinho, daquele tipo em que cada dia tem uma folha para anotações. No fim do dia, anote duas coisas na folhinha: 1 – quanto tempo você passou escrevendo ou planejando a história. 2 – quantas páginas você produziu (não importa se bem finalizadas ou só rascunhadas) nesse dia. Nos dias em que você não puder se doar pra história, pegue uma folha e encha-a com desculpas, do início ao fim. Não fique nem um dia sem fazer isso.
Se a coisa funciona mesmo, eu não sei – vou tentar descobrir, podem deixar -, mas o autor garante que, com o tempo, você fica de saco cheio das desculpas esfarrapadas e vai ou passar mais tempo fazendo o que tem que fazer ou vai desistir de vez.
De qualquer jeito, você para de ficar se enganando.
E aí, qual caminho você quer seguir?


Espero que os conselhos tenham sido úteis. Tenho que confessar que abriram minha mente. Até a próxima e quando terminar sua história, me envia o primeiro capítulo!

terça-feira, 29 de março de 2011

Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu; eu possuo apenas o que Deus me deu


Por mais que você ame de paixão os livros do seu escritor favorito, saiba que ele não é um privilegiado. Meus escritores favoritos, por exemplo, tiveram vidas difíceis antes de terem seus primeiros livros publicados – sem mencionar que foram rejeitados um bocado de vezes. A verdade é que eles podem até ter nascido com o talento para as letras, mas se não tivessem se esforçado e não fossem disciplinados, dificilmente teriam a possibilidade de ter seu talento descoberto e admirado. E como é que esses caras conseguem escrevem tanto em tão pouco tempo? Eles vivem para escrever, não comem, não tomam banho, não têm vida social?
Não necessariamente.
Para você, leitor imaginário aspirante a escritor, aumentar sua produtividade precisa usar completamente o tempo dedicado à escrita escrevendo o que planejou. Nós separamos um tempinho na agenda só para escrever, não separamos?
(Posso ouvir os grilos aqui perto...)
Então, vamos a dez maneiras de aumentar nossa produtividade. (Lembrando que isso não é receita de bolo para ter livro publicado, nem para conseguir escrever um livro. Você poderá conseguir as duas coisas de outras maneiras. Aqui estão apenas sugestões para serem adaptadas aos métodos de cada um).



1 - Gerenciar o Tempo
Você tem que ter um tempo semanal para escrever. Avalie realisticamente por quanto tempo você pode se dar ao luxo de simplesmente escrever sem distrações. NÃO leia e NÃO pesquise nada. Esse é o tempo para a escrita puramente criativa. Mantenha esse horário o mais fervorosamente que você puder.

2  – Ler
Leia de tudo. Leia livros que você já leu e adorou. Leia livros horríveis (na sua opinião). Leia coisas que não combinam com você. Leia bulas de remédio, textos de outdoor, revistas de fofoca. Você rapidamente vai aprender o que deixa uma história ou um artigo memoráveis, e como reconhecer algo ruim.

3 – Planejar
Sempre tenha uma idéia básica do que você vai escrever antes de sentar para escrever. Pense nela quando estiver no ônibus indo pra casa. Pense no conflito que está por vir, enquanto estiver tomando banho. Discuta uma cena iminente no jantar (e se você estiver sozinho, conte a qualquer bichinho de estimação ou objeto inanimado das redondezas). Independente de como você organiza as coisas, na hora em que sentar para escrevê-las, a cena estará quase na sua cabeça. O bloqueio criativo não existe se você planejou a próxima parte da história.

4 – Prazo final

Arrume um prazo final realista, ainda que rígido, para você mesmo. Se você estiver escrevendo uma historinha curta, por exemplo, defina o seu prazo para o dia depois daquele em que você antecipar o término da pesquisa. (Confuso, né?) Nada de desculpas. Se você estiver escrevendo uma história mais longa, atente para suas próprias limitações, mas não fique protelando para sempre.

5 – Pressão
Esteja sob pressão. Ninguém cria um bom trabalho sob pressão, mas será suficiente para ter um rascunho completo, terminado. Aí você poderá revisá-lo e aperfeiçoá-lo. Determine um prazo, depois mande um e-mail para seus amigos e chame a sua família. Conte a eles sobre seu projeto. Conte a eles quando você quer terminá-lo. Depois, diga que eles devem chamar você (ou mandar um e-mail) nesse dia para ler o resultado. Se você não tiver completado a tarefa, eles estão autorizados a esculachá-lo e ridicularizá-lo até não poder mais. Isso é pressão! E também é a obrigação de dar conta. Pode ter certeza de que vai te motivar.

6 – Ideias
Mantenha um arquivo ou um bloco de notas de ideias que te ocorrerem. Leve-o sempre junto com você e anote tudo que parece interessante. Isso pode não se encaixar na sua história atual, mas pode inspirar alguma outra coisa mais pra frente.

7 - Multi-tarefa
 Trabalhe sempre em mais de um projeto. Parece até a maneira mais fácil de se distrair, mas funciona. A mente é uma criatura estranha. Se você iniciar três projetos ativamente de uma só vez, a qualquer momento ela se recusa a cooperar com uma situação do roteiro ou do personagem. Mude para a outra história, então.

8 – Editar
Nada de piedade aqui. Você tem um prazo, então corte suas amadas palavras até chegar ao essencial, onde a real história se esconde por baixo de toda a prosa florida. Certifique-se de que os olhos do personagem são da mesma cor do começo ao fim. Verifique se o roteiro faz algum sentido, e saiba quando jogar fora as palavras que você ama. Você pode colocá-las a qualquer momento em um “arquivo de idéias” e usá-las depois, por isso não se apavore.

9 – Enviar
Pra que escrever se você não vai mostrar o resultado para o olhar crítico de um completo estranho? Você precisa fazer um pequeno dever de casa, encontrar um público adequado para sua história e mandá-la para fora de casa. Não amanhã; agora. Está escrito, editado e arrumado, por isso não é bom deixá-la na última gaveta. Mande para uma editora também – uma editora com a qual o seu livro tenha a ver, é claro. Se for rejeitado, nada de tristeza. Envie de novo. Se o seu trabalho for bom, tenha certeza de que ele encontrará um espaço.


10 – Escrever mais
Como assim, só isso?! Pode crer. É bobo, mas é verdade. Desligue a televisão. Ponha as crianças na cama mais cedo. Levante da cama uma hora antes. Leve um gravador de bolso com você no carro. Rascunhe coisas no seu horário do almoço. Finja um problema de estômago e tranque-se no banheiro por uma hora (é por sua conta e risco!). Leve um bloco de nota para a cama em vez de um livro. Pare de navegar pela internet e abra um arquivo de texto.
Escreva mais.


E aí? Foi útil? Para mim, foi.