segunda-feira, 18 de abril de 2011

Num momento crucial, o sábio soube saber que o sabiá sabia assubiár

Olá, leitor imaginário. Nos reencontramos depois de...13 dias. Estive bem ocupado, ironicamente fazendo algo que eu já faço aqui: escrevendo. Mas era um artigo chato e quadradão para um evento de pesquisa qualquer. Agora vamos falar de emoção, de reflexão. Postarei um texto mais especial sobre dicas para escritores mais para o fim dessa semana, então se segura na poltrona. Hoje vamos viajar nas minhas loucas reflexões, escritas há coisa de um ano. Como eu a achei curtinha, resolvi juntá-la com outra mais recente, no melhor estilo dadaísta de ser. Isso deu certo? Vejamos mais embaixo.
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Há muito calor no Sul e muito frio no Norte, mas os hemisférios têm algo em comum: terremoto. Dois grandes terremotos em menos de três meses, um no Haiti, outro no Chile. Seriam essas duas "sacudidelas" irmãs? É loucura pensar nisso, mas temos que considerar, no mínimo, que elas vieram do mesmo ventre: o ventre do planeta que, nas dores do parto, fez as placas tectônicas se agitarem. 
Às vezes penso que a Terra é um ser consciente tentando se livrar da raça humana com os recursos de que dispõe. Muito ficção científica essa ideia? Talvez desse um bom roteiro de filme...se bem que já fizeram um...acho que o nome é Fim dos Tempos.
Mas pense bem: a Terra é uma mãe amorosa que cuida dos seus filhos, que os alimenta bem ("Aqui, em se plantando, tudo dá"). A terra fornece abrigo, exuberância, saúde, energia, paz, proteção. Mas o homem não estava satisfeito só com isso. Queria mais, queria uma terra do seu jeito - e isso me lembra aquele poema do Mário Quintana falando algo parecido. O conforto que a terra oferecia não era o bastante. Que coisa triste...A natureza trabalhou milhares de anos até chegar na criatura mais desenvolvida no tocante à consciência de estar no mundo ("E ele o fez à sua imagem e semelhança"). Ela chegou à sua obra prima depois de zilhões de tentativas e erros, mas às vezes desconfio que talvez ainda não sejamos a sua obra-prima; talvez sejamos mais uma parte do processo de tentativa e erro. Eis que depois de orgulhosa de ter, pelo menos, chegado ao Homem ("E Ele viu que era bom"), ele lhe volta às costas e procura transformar-lhe de tudo quanto é jeito. A criatura se volta contra seu criador, a mais angustiante das tragédias, a que remonta todas as gerações. 
Este não é o mundo originalmente destinado para nós. Este é o mundo que construímos para negar o primeiro, para afirmar a todo momento a nós mesmos que somos superiores a tudo aquilo que a natureza destinou aos outros animais.
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Se a natureza criou a vida, o Homem inventou a anti-vida. Basta olhar para tudo aquilo que degrada o planeta, que o transforma na lata de lixo da raça humana. Asfalto para sufocar a terra, fumaça para sufocar o ar, óleo para sufocar a água...de todo jeito, em todas as instâncias, o Homem promove o cinza melancólico da anti-vida. Ele sufoca o seu ambiente para dar fôlego a algo que ele mesmo criou para se distrair. Nesses dias de desemprego, venho aprendendo que nada é mais terrível do que dias parados e semelhantes. Nada é mais enlouquecedor do que ter pouco para fazer e fazer esse pouco do mesmo jeito, dia após dia, semana após semana. Talvez algumas culturas se adaptem bem a essa rotina. Mas outras não aguentaram o tédio e resolveram encher o mundo de distrações. Elas são tantas: astronomia, física, química, matemática, literatura, esportes, e por aí vai. A graça está nesse tumulto, não na paz de não saber, nem fazer nada.
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terça-feira, 5 de abril de 2011

Perdão, Senhor, quantos erros cometi...


Calma, amigo! Você não precisa apelar para Deus. Tá certo que nos sentimos mal quando nós, aspirantes a escritores, não nos dedicamos como deveríamos às histórias que queremos escrever, mas isso não é nenhum pecado mortal (a não ser que sua religião diga que é). Fique tranqüilo. Nós vamos é aprender sobre os erros mais comuns aos pretendentes a escritores de ficção. Bom, alguns vão aprender, outros vão revisar, e todos vão adotar estratégias para não deixar esses erros minarem a nossa meta: terminar uma história e encher as bienais com cada vez mais livros de bons autores de ficção nacionais.
De onde vem as informações que você está prestes a passar?, pergunta você, imaginário, mas curioso leitor. Elas vêm de um livro que encontrei em que o autor lista e destrincha nossos erros mais comuns (na opinião dele), totalizando 38 capítulos. Não sei se vou colocar os 38 aqui, porque alguns deles podem ser iguais aos anteriores, só que em outras palavras. Vamos ver. À medida que eu for traduzindo, eu vejo se são informações novas, ou se eu tô chovendo no molhado.
Sei que é meio chato ficar colocando dicas gerais sobre o processo da escrita, em vez de falar logo de diálogos, montagens de cenas, construção de personagens, mas é porque acredito que sem uma disciplina básica nada da parte mais específica será posta em prática. Seria como querer aprender no violão o dedilhado daquela música que você adora sem sequer saber o “nome” das cordas e a escala das notas musicais. E sem saber ler tablaturas.
Então, vamos lá para o resumo do primeiro capítulo:

1. Não invente desculpas

A pena do autor desse livro é sarcástica, por vezes ácida. Ele começa esse primeiro capítulo citando tiras cômicas em que a piada são as pessoas que querem de escrever, mas inventam desculpas para justificar sua “preguiça” em começar. Numa delas, o homem diz à mulher que vai esperar “a inspiração chegar” e envelhece na espera.  Nosso querido autor declara que o mundo está cheio de pessoas boas o bastante para construir uma vida como escritores. Porém, para a sorte daqueles que já estão no mercado, a maioria delas tem mais criatividade para fugir do esforço do que para encará-lo (isso é duro de se ouvir).
Muito bem. Se você está querendo seriamente enfrentar o ofício da ficção, nunca invente desculpas para si mesmo. Evite:
  • Dizer que está cansado demais.
  • Adiar para “depois”.
  • Não conseguir escrever porque está ocupado demais no momento.
  • Esperar pela inspiração.
  • Planejar para ir direto ao ponto “amanhã”
  • Desistir por causa de editoras, leitores, críticos e etc.
  • Dizer a si mesmo que está muito velho (ou muito novo) para começar.
  • Culpar a sua família pela SUA falta de tempo.
  • Dizer que o trabalho exige demais e que vai fazê-lo perder outras atividades.

Nada, a não ser uma tragédia de verdade, deve se intrometer entre você e a sua disciplina como escritor de ficção. Estamos nos enganando pra valer se acharmos que nossos escritores favoritos têm tempo ilimitado, que não lidam com problemas mais urgentes e que estão sempre na maior disposição para sentar ao computador e escrever. É claro que não! (Exclama o autor, e eu posso imaginá-lo bem exaltado). Escrever pode ser divertido pra caramba e extremamente recompensador. Mas é um trabalho duro.
Tá certo, ninguém gosta de trabalho duro dia após dia, semana após semana (eu que o diga). Todo mundo quer sombra e água fresca. Quando a história vai mal, não tem um escritor que sinta prazer em manter a rotina, concentrado no texto. É nessa hora que as desculpas pipocam. Mas os profissas não se deixam levar por elas facilmente.  
As desculpas, as reclamações, as atividades paralelas, tudo deve ser combatido ao longo do tempo; um escritor de verdade vai trabalhar. Re-gu-lar-men-te.
O autor faz a seguinte conta: se você escreve uma página por dia, ao final de um ano terá 365 páginas. Se você gastar o ano seguinte reescrevendo e revisando no mesmo ritmo, terá uma história para enviar a uma editora (ou para ser inscrita num concurso). Segundo o autor, esse é mais ou menos o método dos escritores que mais vendem (nos EUA, eu acho).
Agora, se você passar metade do tempo inventando desculpas, na melhor das hipóteses terá um livro em quatro anos. Muito tempo, não é? Se você passar 75% do tempo inventando desculpas, aí, meu amigo, não vai terminar a bendita história nunca.
O jeito profissional de fazer o trabalho é ser consistente, persistente e obstinado. Depois de um tempão, se o trabalho for rejeitado por todo mundo, não deixe que isso vire uma desculpa também. Eventualmente, todos os escritores constroem histórias inatacáveis. Mas para chegar lá é preciso continuar persistente.
O autor indica o seguinte método para se evitar criar desculpas: pegue um calendário baratinho, daquele tipo em que cada dia tem uma folha para anotações. No fim do dia, anote duas coisas na folhinha: 1 – quanto tempo você passou escrevendo ou planejando a história. 2 – quantas páginas você produziu (não importa se bem finalizadas ou só rascunhadas) nesse dia. Nos dias em que você não puder se doar pra história, pegue uma folha e encha-a com desculpas, do início ao fim. Não fique nem um dia sem fazer isso.
Se a coisa funciona mesmo, eu não sei – vou tentar descobrir, podem deixar -, mas o autor garante que, com o tempo, você fica de saco cheio das desculpas esfarrapadas e vai ou passar mais tempo fazendo o que tem que fazer ou vai desistir de vez.
De qualquer jeito, você para de ficar se enganando.
E aí, qual caminho você quer seguir?


Espero que os conselhos tenham sido úteis. Tenho que confessar que abriram minha mente. Até a próxima e quando terminar sua história, me envia o primeiro capítulo!